Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

sábado, 15 de outubro de 2011

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Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura. E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros à força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país. Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

Por José Barbosa Junior

Por um Forró Autêntico

terça-feira, 5 de julho de 2011

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POR UM FORRÓ AUTÊNTICO

ONALDO QUEIROGA

Um dia, Luiz Gonzaga deixou seu pé de serra, sua Vila do Araripe, sua Exu, em Pernambuco, e partiu para abraçar o mundo. Levou no matulão o seu cariri, o seu sertão — sofrido, sim, mas de uma fortaleza inigualável. Levou consigo o próprio Nordeste, sua gente e sua cultura.
Com sua sanfona e seus parceiros, Gonzaga iluminadamente criou o baião, o xote, o xaxado e o forró, transformando-se no Rei do Baião. Virou um artista considerado por muitos como a síntese, em termos musicais, de grandes nomes da literatura brasileira, como José Américo de Almeida, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e João Cabral de Mello Neto. Ou seja, o que estes monstros sagrados retrataram em seus livros, Luiz “Lua” Gonzaga também o fez, com identidade própria, em suas músicas.


Após muita luta, enfrentando preconceitos e desafios tremendos, Luiz conseguiu apresentar e manter viva até hoje a música de raiz do povo nordestino. Falar em Luiz Gonzaga é prontamente associá-lo ao chamado forró “pé de serra”, ou seja, a autêntica música nordestina, por ele criada e divulgada. Mas é como diz a história: tudo o que o homem cria, também ele próprio modifica, às vezes para melhor. Já outras modificações terminam por se deteriorar e até mesmo por descaracterizar o que fora tão bem lapidado quando inicialmente criado. Antes de falecer, Luiz Gonzaga percebera que sua música, com o tempo, vinha sofrendo algumas alterações. É que alguns músicos, descompromissados com a verdadeira cultura de raiz, passaram a distorcer o forró, o xote, o xaxado e o baião. O Rei, sentindo o perigo, ainda chegou a protestar, cantando “Baião Polinário”.Ele parecia pressentir o que poderia acontecer com o baião, o xote, o xaxado e o forró. Passados 19 anos de sua morte. alguns poucos nordestinos lutam para manter acesa a chama do forró pé de serra, da música de raiz do Nordeste. Mas outros inúmeros nordestinos procuram inconcebivelmente destruir nossa música. O que se vê é número insignificante de artistas que, individualmente, procuram, por meio de carreira solo, apresentar um trabalho que se enquadre no perfil do verdadeiro forró, pois na verdade há uma prevalência de bandas, que, cantando um forró de plástico, divulgam em suas letras o inaceitável incentivo a uma vida promíscua, voltada para cabarés e bebedeiras, como se isso contribuísse de alguma forma para a construção de uma sociedade sadia. O verdadeiro forró ainda é sustentado por alguns artistas nordestinos, como Maciel Melo, Alcymar Monteiro, Pinto do Acordeom, Flávio José, Waldones, Clã Brasil, Adelmário Coelho e outros poucos. Mas, contrariando o curso natural da História, inversamente ao caminho que originariamente fora percorrido, hoje o forró encontra, em alguns grupos do Sudeste do país, os denominados universitários, precipuamente do Rio de Janeiro e de São Paulo, o apoio da continuidade do legado deixado por Luiz Gonzaga. O forró universitário resolveu encampar a luta de manter vivo o verdadeiro forró. É o caso do Fala Mansa e do Forroçacana, que conquistaram uma legião de fãs, tendo como ponto fundamental o forró pé de serra. Tocando músicas de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros clássicos da música nordestina, alcançaram o sucesso e somente mais adiante investiram na composição de um repertório próprio e original, contudo sem se afastar do toque do forró legítimo. Nosso Zé Ramalho referia-se assim, em março de 2000, ao Forróçacana: “Para mim, que conheço o som do Nordeste, aprendo com eles que a brasilidade é maior do que qualquer região, não importa onde nascemos, mas sim, para que viemos. Que se faça logo o tempo passar e, com isso, o lugar que é deles, seja preenchido com talento e cheiro de coisa alegre.”Há realmente coisas neste mundo difíceis de compreender. Como diz o ditado: “De onde menos se espera é que se encontra o apoio que se deseja”. Não há ou haverá forró plastificado que enterre a verdadeira música nordestina. Como tantos outros modismos, o forró de plástico passará — e o legítimo forró continuará reinando, para a felicidade do Nordeste.

Algumas de Seu Lunga

sábado, 2 de julho de 2011

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SEU LUNGA é um personagem folclórico nordestino, famoso pela sua ignorância quando fazem perguntas estúpidas. E aqui vai algumas das "histórias de Seu Lunga".



Seu Lunga estava na sua casa com sede. E manda seu sobrinho lhe trazer um pouco de leite. Daí o pobre do garoto pergunta:
-No copo Seu Lunga?
E seu Lunga responde - Não. Bota no chão vem empurrando com o rodo, fi de rapariga!!!



Seu Lunga estava no mercado com uma caixa de ovos. Daí perguntaram a ele:
-Comprando ovos Seu Lunga?
Dai Seu Lunga responde - Não - jogando um por um no chão - É traque de massa!!!



Seu Lunga estava passeando na calçada com o cachorrinho. E lhe perguntam:
- Passeando com o cachorrinho Seu Lunga???
E Seu Lunga respondeu - Não. É meu passarinho - pegando o pobre podle pela coleira e fazendo ele voar



Seu Lunga estava num restaurante tomando sopa quando perguntam pra ele:
-Tomando sopa Seu Lunga?
E seu lunga responde levantando o prato de sopa e esborrando-o em cima dele mesmo -Não, To tomando banho!!!!!!



O funcionário do banco veio avisar:
- Seu Lunga, a promissória venceu.
- Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.



Seu Lunga vinha pela rua carregando um balde de leite quando na porta de sua casa a sua mulher pergunta:
- Home! É pra gente beber esse leite??
- NÃO, É pra lavar a calçada - Traz a vassoura, mulher! -E joga todo o leite no chão.



Um sujeito até a loja do Seu Lunga e pediu uma porca de determinado tamanho, seu Lunga respondeu:
- Procure naquela caixa.
E o sujeito começou a procurar e no meio de tantas peças nada de ele conseguir achar a porca que ele queria, então exausto falou para Seu Lunga:
- Seu Lunga, não consegui achar a porca...
Indignado, Seu Lunga foi até a caixa, procurou a tal porca e a achou, então virou-se para o rapaz e respondeu:
- Eu não te disse que a porca tava aqui fi duma égua!!! - e jogando a porca novamente na caixa e misturando com as outras peças diz - agora procura de novo direito que você acha!!!



O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia Seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta:
- Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho.
Seu Lunga aponta e diz:
- É aquele ali...
- Aquele qual?
- Aquele ali!!!!
- Não tô vendo...
Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz:
- É aquele alí que começou a chorar!!!


Seu Lunga entrando em uma agropecuária.
-Tem veneno pra rato?
-Tem!, Vai levar? - Pergunta o balconista.
-Não, vou trazer os ratos pra comer aqui!!! responde seu Lunga.




Seu Lunga no elevador (no subsolo-garagem).
Alguem pergunta: Sobe?
Seu Lunga: -Não, esse elevador anda de lado.



Seu Lunga fumando um cigarro.
A pergunta: Ora, ora! Mas você fuma?
-Não, é que eu gosto de bronzear os pulmões...


Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à marinha para a entrevista:
Você sabe nadar? Pergunta o oficial.
-Sei não senhor.
-Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à marinha?
-Quer dizer que se eu fosse pra aeronáutica, tinha que saber voar!!


Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
Ta doente, seu Lunga?
- Quer dizer que seu fosse saindo do cemitério eu tava morto!!!



* Seu Lunga, quando era motorista de ônibus urbano,
um passageiro pergunta:
- Esse ônibus vai para a praia?
- Pode até ir, se você arranjar um biquíni que dê nele!
*****

* Um amigo passa; vê seu Lunga perto do cavalo e prendendo as esporas na bota:
Vai cavalgar, seu Lunga?
- Não, fi de quenga! Vou matar rato... Eu prendo o rato no c.. e dobro a perna pra trás, dando-lhe uma esporada...
*****

* O cliente chega pra comprar um relógio na loja de seu Lunga.
Pode tomar banho com esse relógio, seu Lunga?
- Ô corno! Isso é um relógio, não é um sabonete...
*****

* Seu Lunga chega em casa e vê sua esposa concentrada na leitura de um livro e com as pernas atravessando o vão da porta de entrada. Após alguns minutos ela levanta o olhar vê seu Lunga parado, com o celular na mão:
- Oh! Lunga, pelo amor de Deus, me desculpe! Venha! Passe!
- Pode ficar! Eu já chamei o pedreiro pra abrir outra porta!
*****

* Seu Lunga espremendo um limão no copo de Coca-Cola:
Alguém pergunta - Isso é limão, seu Lunga?
- Não, é o meu colírio. E pinga o limão no olho.

*****

* Seu Lunga chega em casa e as suas filhas estão lavando a sala.
- Pai, dá pra você pular a janela do quarto? Nós estamos lavando o chão da sala...
Seu Lunga sai “espumando” e a partir desse dia só entra em casa pulando pela janela do quarto.
*****

* Seu Lunga dava uma bela surra no filho e o menino gritava:
Ta bom, pai! Ta bom, pai! Ta bom, pai!
- Ta bom? Quando tiver ruim você me avisa, que eu paro.
*****

* O amigo de seu Lunga o cumprimenta:
- Olá, seu Lunga, ta sumido! Por onde tem andado?
- Pelo chão, não aprendi a voar ainda...
*****

* A filha de seu Lunga o vê deitado no sofá e pergunta:
- Tá dormindo, pai?
- Não, estou treinando pra morrer!
*****

* Na cerimônia de casamento, seu Lunga segura a mão da noiva e o padre pergunta:
- Você aceita Maria dos Prazeres como sua legítima esposa?
- Não, claro que não! Eu, minha noiva e os convidados viemos até a igreja pra jogar sinuca e tomar birita com o padre!...
*****

* A filha de seu Lunga chega bem tarde da noite com o namorado. Seu Lunga está esperando, furioso.
- Como o senhor se atreve a trazer minha filha uma hora dessas?
Aqui é casa de família e eu exijo respeito, seu cabra!
- Calma seu Lunga... eu não vou arrancar nenhum pedaço dela...
- Eu não estou preocupado com pedaço que você vai arrancar!
Eu estou preocupado é com o pedaço que você quer botar!
*****

* Seu Lunga está na rodoviária, acompanhado da esposa, três filhas e com cinco passagens na mão. Um conhecido passa e pergunta:
- E aí, seu Lunga! Como vai a família?
- Vai toda de ônibus! Você é cego, seu cachorro da moléstia?!
*****

* Seu Lunga chega na lanchonete.
- Quanto custa um café?
- Um real o copo, seu Lunga.
- E o açúcar?
- O açúcar é de graça...
- Então suspende o café e me dá dois quilos de açúcar!
*****

* Na década de 70, seu Lunga chega num bar e fala pro atendente:
- Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!
- Desculpe seu Lunga, não posso botar música hoje...
- Mas por que??
- Meu avô morreu!
- E ele levou os discos, foi?
*****

* Durante a madrugada, a mulher do seu Lunga passa mal:
- Lunga! Ta me dando uma coisa...
- Receba!
- Mas é uma coisa ruim!
- Então devolva!!
Uma hora depois a mulher sente que vai morrer...
- Lunga! Eu to me indo!
- Quando sair fecha a porta!

*****



* Seu Lunga, quando jovem, já era ignorante. A namorada, vendo seus modos muito rudes, resolve tirar uma brincadeira para descontrair o ambiente e com um papel de balinha na mão, diz:
- Eu furo o seu olhinho!
- Fure! Que eu passo-lhe a mão no pé do ouvido!!
*****

Ao final da tarde seu Lunga vem chegando da roça, cansado, com a enxada nas costas, quando vê a sua filha encostada no muro da frente de casa, num beijo longo e apaixonado com o namorado. Seu Lunga passa sem dizer nada, chega na cozinha e berra:
Maria! Bota janta pra aqueles dois, que estão lá na área!
- Que besteira é essa, Lunga! Eles acabaram de lanchar!
- Nem parece! Tão comendo a boca um do outro!
*****

O telefone toca:
Seu Lunga - Alô!
- Bom dia! Mas quem está falando?
- Você!
*****

Seu Lunga viaja de ônibus e a poltrona ao seu lado está vazia.
Numa parada do percurso uma senhora entra no ônibus e chegando perto de seu Lunga pergunta: - Senhor! Nessa cadeira tem alguém sentado?
Seu Lunga olha para o lado e resmunga: - Se tiver eu to cego!
*****

Seu Lunga sobe numa cadeira para trocar a lâmpada, mas perde o equilíbrio e cai de costas no chão. A sua filha vem correndo com um copo de água gelada na mão: Toma pai, toma!
- Pra que essa água? Eu levei foi uma queda; eu não comi doce!

Fonte: Perfil de Ravatsky no Recanto das Letras

Música - Orgulho de Ser Nordestino

quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Orgulho de Ser Nordestino - Flávio José

Além da seca ferrenha
Do chão batido e da brenha
O meu nordeste tem brio
Quer conhecer então venha
Que eu vou te mostrar a senha
Do coração do brasil
São nove estados na raiva
Todos com banho de praia
Num céu de anil e calor
São nove estados unidos
Crescentes fortalecidos
Onde o brasil começou
E hoje no calcanhar da ciência
Formam uma grande potência
Irrigando o chão que secou
É verdade que a seca inda deixa sequela
Mas foi aprendendo com ela
Que o nosso nordeste ganhou
Deixou de viver de uma vez de esmola
E foi descobrindo na escola
A grandeza do nosso valor

Eu quero é cantar o nordeste
Que é grande e que cresce
E você não conhece doutor
De um povo guerreiro, festivo e ordeiro.
De um povo tão trabalhador
Por isso não pise, viaje e pesquise.
Conheça de perto esse chão
Só pra ver que o nordeste
Agora é quem veste

É quem veste de orgulho a nação

Para Ouvir a Música Clique Aqui

Tribos Indígenas Nordestinas

segunda-feira, 27 de junho de 2011

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índia brasileira

O Brasil possui 258 tribos indígenas, com uma população de aproximadamente 378 mil pessoas.

No Nordeste encontram-se 39 tribos, com 81 mil pessoas (21% do total Brasileiro). Destas:

  • 15 tribos, infelizmente, já não falam mais sua própria língua
  • 18 têm trabalho missionário evangélico: 17 em andamento e 1 trabalho emancipado, ou seja, o povo foi alcançado!

É o povo Urubu-Kaapor, do Maranhão e Pará. Eles são cerca de 800 pessoas e já têm o NT em sua própria língua.

Outras 21 tribos não têm nenhuma iniciativa missionária evangélica. Destas:

  • 5 têm situação indeterminada (precisam de mais estudos)
  • 10 têm trabalho somente católico
  • 6 não têm qualquer presença cristã

Veja os detalhes:

Tribos do NE, Não-Alcançadas, sem presença missionária: (Nome, Estado, População)

  1. Jiripancó (AL/PE), 1.500
  2. Kantaruré (BA), 353
  3. Karapotó (AL), 796
  4. Kariri (CE/PE), ?
  5. Krejê (MA/PA), 30, tradução Bíblica necessária
  6. Pankaru (BA), 84

Tribos Nordestinas Não-Alcançadas, mas com trabalho evangélico em andamento:

  1. Guajá ((MA/PA/TO), 300, tradução em andamento
  2. Guajajara (MA), 15.000, NT na língua
  3. Gavião (do MA), 466, tradução numa língua similar
  4. Fulniô (PE), 5.000
  5. Kaimbé (BA), 1.270
  6. Kapinawá (PE), 2.500
  7. Kariri-Xocó (AL), 2.500
  8. Kiriri (BA), 1.401, existem convertidos, mas sem missionários
  9. Krikati (MA), 620, tradução em andamento
  10. Pankararé (BA), 1.500
  11. Pankararu (AL/PE/MG), 5.000
  12. Pataxó (BA/MG), 7.000
  13. Potiguara (PB), 7.575
  14. Tapeba (CE), 2.491
  15. Tremembé (CE), 3.500
  16. Tuxá (BA/PE), 1.630
  17. Xukuru (PE), 6.363

Tribos Nordestinas Não Alcançadas, mas com presença Católica

  1. Kambiwá (PE), 1.578
  2. Paiaku (CE), 220
  3. Pataxó-Hãhãhãe (BA), 1.865
  4. Pitaguari (CE), 871
  5. Tingui-Botó (AL), 350
  6. Truká (BA/PE), 1.333
  7. Tupinikim (BA/ES), 1.386
  8. Wassu (AL), 1.447
  9. Xocó (AL/SE), 250
  10. Xukuru-Kariri (AL/BA/MG), 1.820

Tribos com Situação Indeterminada em relação à Evangelização

  1. Kalankó (AL/PE), 230
  2. Karuazu (AL/PE), ?, precisa de tradução Bíblica
  3. Pipipã (PE), ?
  4. Tumbalalá (BA), 900
  5. Tupinambá (BA/PA), 1.200

Brasil, Ianomami, Maita-India

É importante compreender que, do ponto de vista missionário, na perspectiva bíblica, para que uma nação (etnia/povo) seja considerada alcançada pelo Evangelho, não basta haver presença missionária, nem mesmo alguns convertidos.

Para que um povo seja alcançado é necessário haver uma igreja autóctone (nativa, formada pelo próprio povo) madura, isto é, capaz por si mesma de evangelizar o seu próprio povo.

Em outras palavras, precisa haver uma “igreja”, e esta deve ser:

a) auto-governada,

b) auto-sustentada, e

c) auto-propagadora.

Temos muito que agradecer, honrar e aprender do trabalho missionário pioneiro daqueles que se dedicaram totalmente, sacrificialmente, na grande parte das vezes, solitariamente, para levar o Evangelho a estes povos. Que o Senhor lhes recompense e que possam se alegrar em ver os frutos de seu trabalho!

A triste realidade, que nos desafia a continuar a orar e trabalhar, é que depois de mais de 100 anos de presença evangélica no Brasil, SOMENTE UMA tribo indígena Nordestina pode ser considerada alcançada!

Onde estávamos, como igreja, durante todos estes anos? para onde fomos? que estradas percorremos que nos afastaram de levar o Evangelho a estes que são nossa gente, nosso sangue, nossa mais legítima raíz! Onde estão aqueles que foram enviados pelo Senhor? ou pensamos que Ele não tem chamado ninguém para esta missão?

Onde estão as igrejas que enviarão novos missionários? que os sustentarão em oração e com recursos? A resposta é óbvia: Estamos aqui, a poucos quilômetros destas tribos…

Como igreja nordestina, é tempo de nos levantarmos em direção a estas tribos. Em nossas igrejas estão os vocacionados que completarão esta tarefa. Sobre nossos ombros repousa a responsabilidade de ouvir a voz de nosso Pastor, obedecer sua Palavra e honrar o exemplo de coragem e determinação daqueles que nos antecederam.

Como ouvirão, se não há quem pregue…?

E como pregarão, se não forem enviados?

Roguemos ao Senhor da seara que envie trabalhadores para sua seara!

Fonte: Teleios

Biografia do Padre Cícero - O Cearense do Século

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Dados Pessoais

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.
Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma.
Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras-Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das duas irmãs solteiras.
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.

Ordenação

Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato, e enquanto o Bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

Chegada a Juazeiro

No Natal de 1871, convidado pelo Prof. Semeão Correia de Macêdo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (então pertencente a Crato), e aí celebrou a tradicional Missa do Galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada causou boa impressão aos habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio no confessionário do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta deles!

Apostolado

Uma vez instalado no lugarejo, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra de Nossa Senhora das Dores, Padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na Região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão. Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.

Milagre

Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.
Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la pois a mesma transformara-se em sangue.
O fato repetiu-se outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico.
As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos.

Reação da Igraja

De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando inclusive sigilo por algum tempo. Os médicos Marcos Madeira e Idelfonso Correia Lima e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves foram convidados para testemunhar as transformações, e depois assinaram atestados afirmando que o fato era inexplicável à luz da ciência. Isto contribuiu para fortalecer no povo, no Padre Cícero e em outros sacerdotes a crença no milagre.
O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos tintos de sangue.
O professor e jornalista José Marrocos, desde o começo um ardoroso defensor do milagre, cuidou de divulgá-lo pela imprensa.
A notícia chegou ao conhecimento do Bispo D. Joaquim José Vieira, irritando-o profundamente. Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal, em Fortaleza, a fim de prestar esclarecimentos sobre os acontecimentos que todo mundo comentava.
Inicialmente, o bispo ficou admirado com o relato feito por Padre Cícero, porém depois, pressionado por alguns segmentos da Igreja que não aceitavam a idéia de milagre, mandou investigar oficialmente os fatos, nomeando uma Comissão de Inquérito composta por dois sacerdotes de reconhecida competência: os Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero.
Os padres comissários vieram, assistiram às transformações, examinaram a beata, ouviram testemunhas e depois concluíram que o fato era mesmo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra Comissão, constituída pelos Padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido.
A nova Comissão agiu rapidamente. Convocou a beata, deu-lhe a comunhão, e como nada de extraordinário aconteceu, concluiu: não houve milagre!
O povo, Prof. José Marrocos, Padre Cícero e todos os outros padres que acreditavam no milagre protestaram.
Com a posição contrária do bispo, criou-se um tumulto, agravado quando o Relatório do Inquérito foi enviado à Santa Sé, em Roma, e esta confirmou a decisão tomada pelo bispo.
Todos os padres que acreditavam no milagre foram obrigados a se retratar publicamente, ficando reservada ao Padre Cícero uma punição maior: a suspensão de ordem.
Durante toda sua vida ele tentou revogar essa pena, todavia, foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Entretanto, o bispo, por intransigência, manteve-se irredutível na decisão tomada inicialmente.
Cem anos depois o milagre de Juazeiro foi alvo de estudos pela Parapsicologia. Segundo estudiosos dessa ciência, um caso de aporte foi o que teria acontecido com a beata. A tese do embuste, defendida por muitos padres e escritores, foi descartada pelos parapsicólogos.


Vida Política

Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Como explicou no seu Testamento, o fez para atender aos insistentes apelos dos amigos e na hora em que os juazeirenses esboçavam um movimento de emancipação política.
Conseguida a independência de Juazeiro, em 22 de julho de 1911, Padre Cícero foi nomeado Prefeito do recém-criado município. Além de Prefeito, também ocupou a Vice-Presidência do Ceará.
Sobre sua participação na Revolução de 1914 ele afirmou categoricamente que a chefia do movimento coube ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa, seu grande amigo. A Revolução de 1914 foi apoiada pelo Governo Federal e tinha o objetivo de depor o Presidente do Ceará Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da Revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de Prefeito, do qual havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio cresceu. Sua casa, antes visitada apenas por romeiros, passou a ser procurada também por políticos e autoridades diversas.
Era muito grande o volume de correspondências que Padre Cícero recebia e mandava. Não deixava nenhuma carta, mesmo pequenos bilhetes, sem resposta, e de tudo guardava cópia.

Encontro com Lampião

Com respeito a Lampião, Padre Cícero encontrou-se com ele em 1926. Aconselhou-o a deixar o cangaço, e nunca lhe deu a patente de Capitão, como foi dito em alguns livros. Na verdade, Lampião veio a Juazeiro a convite do Deputado Floro Bartolomeu para ingressar no Batalhão Patriótico e combater a Coluna Prestes. É possível que ele tenha usado o nome do Padre Cícero para tal, pois Lampião jamais recusaria um pedido de Padre Cícero. Dr. Floro não pôde receber Lampião e seu bando, pois já se encontrava no Rio de Janeiro para onde fora doente, chegando a falecer, coincidentemente, na época em que o famoso cangaceiro visitou Juazeiro. Como insistia em receber a patente de Capitão prometida por Dr. Floro, um dos secretários de Padre Cícero (Benjamim Abraão), convenceu Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal residente em Juazeiro, a assinar um documento por eles mesmos forjado, concedendo a famigerada patente, que tantos aborrecimentos trouxe ao Padre Cícero, a quem muitos escritores atribuem a autoria.
A verdade é que, mais tarde, Dr. Uchoa foi chamado a Recife para se explicar junto às forças armadas sobre a concessão da patente, e ele, naturalmente temendo ser punido, não encontrou outra solução senão atribuir tudo ao Padre Cícero, certo de que ninguém seria capaz de repreender aquele virtuoso e respeitado sacerdote. Quem conhece a índole do Padre Cícero sabe perfeitamente que ele seria incapaz de praticar ato tão abjeto.


Importância

Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro a Ordem dos Salesianos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando o pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.
Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos seus maiores herdeiros.
Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que, morto o ídolo, a cidade que ele fundou e a devoção à sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vinda dos mais distantes lugares do Nordeste, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.
Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele, existem mais de duzentos livros, sem falar nos artigos que são publicados freqüentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior.
Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
O binômio oração e trabalho era o seu lema. E Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre. Em março de 2001, em eleição promovida pelo Sistema Verdes Mares de Televisão, Padre Cícero foi escolhido O CEARENSE DO SÉCULO

Bibliografia

DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. 2 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1985.
FORTI, Maria do Carmo P. Maria de Araújo, a beata do Juazeiro. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.
GUEIROS, Optato. Lampeão. 2 ed. São Paulo, 1953.
MENEZES, Fátima. Lampião e o Padre Cícero. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1985.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci. 3 ed. Recife: Editora Massangana, 1981.
SOBREIRA, Azarias. O Patriarca de Juazeiro. Petrópolis: 1968.

Fonte: Sfiec

O desafio do "governador do sertão"

quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Na história de Lampião, marcou época sua atrevida idéia de propor a divisão do estado de Pernambuco, cabendo a ele o governo de uma das metades. A reação das autoridades, extremamente violenta, assinalou o início da derrocada do cangaceiro
por Moacir Assunção
Lampião, em foto de Lauro Cabral de Oliveira. Juazeiro, Ceará, março de 1926. foto: Coleção Frederico Pernambucano de Mello, Recife
Ninguém sabe ao certo até onde foi a surpresa do então governador de Pernambuco, Júlio de Melo, naqueles primeiros dias de dezembro de 1926, quando recebeu das mãos do chefe de polícia Antônio Guimarães uma desaforada carta de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, propondo nada menos que a divisão do estado em dois e a indicação dele - Lampião - como "governador do sertão", título que os jornais locais estavam lhe conferindo, depois de muitas estripulias cometidas por seu bando.

Conhece-se apenas a reação do dirigente do estado, registrada pelos historiadores Frederico Pernambucano de Mello e Frederico Barbosa Maciel: "A proposta de Lampião terá uma resposta à altura de seu atrevimento e ousadia". E fica mais fácil entender esse atrevimento quando se recorda que na época Lampião se sentia excepcionalmente fortalecido por ter acabado de derrotar, em 27 de novembro, uma supervolante de 300 soldados, comandada por seus piores inimigos. Isso acontecera na Batalha da Serra Grande, a mais violenta da história do cangaço.

No dia 12 de dezembro, Júlio de Melo seria sucedido por Estácio Coimbra, que não se deu por rogado diante do desafio. Colocou na chefia da polícia um jovem advogado, filho de uma família aristocrática da Zona da Mata, Eurico de Souza Leão, que se encarregaria de dar a resposta oficial ao bandoleiro. Leão tomou, então, medidas que fizeram com que, em um prazo de um ano e meio, Lampião estivesse totalmente derrotado em seu estado natal.

Para começar, trocou os soldados do litoral que combatiam os cangaceiros - chamados pejorativamente de "pés-de-barro" - por sertanejos de hábitos e resistência física exatamente iguais às dos bandidos. Depois, começou a prender e processar os coiteiros (protetores de cangaceiros), quebrando a tradicional complacência e até mesmo cumplicidade dos poderosos chefes do interior para com Lampião e seus seguidores. Por fim, promoveu convênios com os estados vizinhos para enfrentar os bandidos.

Na carta, repassada a Guimarães pelo representante comercial da multinacional Standard Oil, Pedro Paulo Mineiro Dias, que havia sido refém do bando antes da Batalha da Serra Grande e solto sem pagamento de resgate, o bandoleiro propunha a partilha do estado de Pernambuco, de forma que ele, Lampião, governasse o trecho de Rio Branco (atual Arcoverde) até o sertão e o governador, de Rio Branco até "onde bate a pancada do mar", ou seja, Recife. Em Rio Branco terminava, na época, a linha férrea da Great Western and Brazil Railway.

Na curiosa "proposta", Lampião e o governo do estado nordestino viveriam em harmonia, cada um em seu feudo, como se o Pernambuco do começo do século XX fosse a Europa da Idade Média. Aquela não seria a primeira nem a última vez que Lampião faria um desafio aberto ao governo de um dos sete estados nordestinos pelos quais circulou, mas dessa vez a ameaça ganhava maior importância porque o cangaceiro - que em março daquele ano havia sido armado e municiado pelo governo do presidente Artur Bernardes para enfrentar a Coluna Prestes - vivia o apogeu do seu domínio sobre a região e seus habitantes.

Patente de capitão
A passagem da Coluna Prestes pelo Nordeste, em 1925, fizera com que o deputado Floro Bartolomeu, médico baiano que era uma espécie de alter ego do Padre Cícero, propusesse ao governo federal a contratação de Lampião para enfrentá-la. O bandido receberia, então, em 4 de março de 1926, a patente de capitão dos chamados Batalhões Patrióticos, milícia irregular formada para combater os comunistas.

Assim, o mais moderno armamento, como rifles Winchester modelo 44 e pistolas Mauser e Parabellum, além de farta munição, foi repassado aos bandoleiros, que, no entanto, somente uma vez, entre as cidades de São Miguel e Alto de Areias, no Ceará, deram combate a patrulhas avançadas da coluna do Cavaleiro da Esperança, apelido dado pelo escritor Jorge Amado ao líder Luís Carlos Prestes. Bem armados e municiados, com excelentes cavalos, fardamento militar na cor azul e a carta-patente assinada pelo Padre Cícero, os bandidos encontravam-se em um momento muito favorável.
Coleção Frederico Pernambuco de Mello, Recife
Cartaz de 1930
Para completar, Lampião, extremamente vaidoso, era tratado nos jornais como "governador do sertão", deferência que somente Antônio Silvino, seu antecessor no cangaço, havia obtido. Dias antes de enviar a carta, ele havia saboreado o prazer de derrotar seus mais terríveis inimigos entre os quais Manuel Neto, o Mané Neto, Arlindo Rocha e Higino Belarmino, o Nego Higino, no combate da Serra Grande. Os policiais tinham ido à serra, a 25km de Vila Bela (atual Serra Talhada, em Pernambuco) na tentativa de resgatar o refém, Pedro Paulo Mineiro Dias, pela vida do qual os bandoleiros pediam 16 contos de réis.

Naquela ocasião, ao lado de uns 90 cangaceiros, o bandoleiro destroçou a supervolante. O sargento Mané Neto, que perseguiu o bandido durante toda a vida, perdeu parcialmente o movimento das pernas ao ser atingido durante a luta. Já o sargento Arlindo Rocha levou um disparo na boca que quase lhe destruiu a mandíbula, o que faria com que tivesse problemas de mastigação pelo resto da vida. O curioso é que ele havia dito, antes de enfrentar os bandidos, que naquele dia "ia comer bala", ao se recusar a parar a tropa para o rancho, por causa da pressa de encontrar os cangaceiros.

No total, pelo menos dez soldados morreram e 30 ficaram feridos no embate. Entre os bandidos, há notícias de somente alguns feridos. A razão da derrota é que os cangaceiros estavam postados no alto da serra, protegidos por pedras, enquanto os policiais avançavam de peito aberto. Aqueles tinham apenas o trabalho de escolher o alvo e atirar. Por muito tempo, a polícia, desmoralizada, manteve a versão de que Antônio Ferreira, um dos irmãos de Lampião, havia sido morto no confronto. Era uma forma de diminuir um pouco o impacto da derrota. Na verdade, Antônio seria morto em um acidente, em janeiro do ano seguinte, devido a um tiro disparado inadvertidamente por um cangaceiro chamado Luiz Pedro.

Na Batalha da Serra Grande, o tiroteio, que se iniciou por volta das 8h30, durou praticamente o dia inteiro e só acabou quando os cangaceiros cansaram-se de "matar macacos" e resolveram descer a serra para seguir em direção à fazenda de Ângelo Gomes, conhecido como Anjo da Gia. Depois de libertar Mineiro Dias, que lhe servira como uma espécie de secretário enquanto esteve preso, Lampião pediu a ele para escrever a carta, que ditou na máquina de escrever portátil do comerciante, e a levasse ao Recife, para entregá-la ao governador. Dentro de um envelope branco, tipo comercial, endereçado ao "Ex° governador de Pernambuco", a correspondência chegou às mãos do chefe de polícia.
Coleção Frederico pernambuco de Mello, Recife
O cangaceiro com a família, em foto de Lauro Cabral de Oliveira, 1926
Em 1938, pouco depois da morte de Lampião, Mineiro Dias contou, em entrevista ao jornal recifense A Noite, detalhes de sua participação no episódio. "Foi uma luta bonita, que durou o dia inteiro, e eu firme, embora assustado. A polícia retirou-se cerca das 17 horas, deixando alguns mortos e certa quantidade de munição esparsa pelo campo. É que a posição dos cangaceiros era ótima. Foi dessa vez que o então sargento Manuel Neto, lutando como um bravo, saiu ferido. Nessa noite, o harmônio [sanfona] tocou mais que em qualquer dia."

Para enfrentar adversários tão perigosos, o chefe de polícia de Estácio Coimbra mirou no ponto mais sensível para os cangaceiros: os coronéis do interior e simples cidadãos que os escondiam e lhes vendiam armas e munição em troca de proteção. Em pouco tempo, vários daqueles que forneciam armamento ao bando de Virgulino estavam na cadeia, como o coronel Ângelo Lima, o fazendeiro Ascênio Gomes e o comerciante Ascendino Gomes de Oliveira, todos sob acusação de ajudar os cangaceiros. Mesmo que os detidos não fossem os mais poderosos protetores dos bandoleiros, sua prisãoera um sinal de que algo mudava na região.

Homens duros
Em outra frente, Eurico de Souza Leão levou para a polícia sertanejos da própria região, o vale do rio Pajeú, de onde os bandidos eram originários, ampliando uma política iniciada no governo anterior. Agora, eram homens duros, acostumados a enfrentar a caatinga e suas dificuldades, que davam combate aos bandoleiros. Os resultados dessa mudança de estratégia não demoraram a aparecer. Lampião logo teria nos seus calcanhares homens como os nazarenos, naturais da cidade de Nazaré (hoje Carqueja, no Pernambuco), que se converteriam em seus piores inimigos.

Diante deles, o próprio líder cangaceiro tremeria. Mané Neto, Davi Jurubeba, Euclides Flor e Odilon Flor, entre outros, nunca lhe dariam descanso. Quando Lampião morreu, estes adversários choraram de raiva. É que, segundo Jurubeba, o bandido que eles perseguiram durante toda a vida acabou morto por João Bezerra, que não era um nazareno, mas sim um pernambucano, chefe de uma volante alagoana, por quem os nazarenos não nutriam grande simpatia. Aliás, Bezerra pediu e obteve, um dia antes do confronto, a metralhadora da volante baiana de Odilon Flor, para, afirmou, prender alguns bandidos. Flor jamais imaginou que o inimigo contra o qual iriam lutar fosse o próprio rei do cangaço. Se soubesse, estaria na linha de frente.
A carta desafio
Abafilm e Sociedade do Cangaço, foto B. Abrahão/divulgação exposição
José Rufino e os membros da volante do estado da Bahia sob seu comando, em foto de Benjamin Abrahão, 1936
A seguir, a transcrição da carta enviada por Lampião:

Senhor governador de Pernambuco,
Suas saudações com os seus.
Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. (...) Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo a sua resposta e confio sempre.

Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão


Fonte: livro Lampião, seu tempo, seu reinado - vol. III, de Frederico Bezerra Maciel, Editora Vozes. O arquivo do governo de Pernambuco sobre Júlio de Melo está indisponível, e a versão acima foi compilada por Maciel com base nas entrevistas de Pedro Paulo Mineiro Dias à imprensa pernambucana.
Saiba mais
Lampião, senhor do sertão, de Élise Grunspan-Jasmin, Edusp. Quem foi Lampião, de Frederico Pernambucano de Mello. Stahli/Fundação Joaquim Nabuco.
Guerreiros do sol, de Frederico Pernambucano de Mello, ed. A Girafa
De Virgolino a Lampião, de Antônio Amaury e Vera Ferreira, Idéia Editorial
Exposição "Cangaceiros". O rei do cangaço e seu bando estão em exposição no MIS-SP até 4 de março de 2007. São 86 imagens, cedidas por colecionadores do cangaço, que mostram a evolução e a originalidade de seus membros. De terça a domingo, das 10 h às 18 h. Av. Europa, 158, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3062-9197. Ingresso: R$ 3,00
Moacir Assunção é jornalista, pós-graduado em ciências sociais e especializado em história militar. É autor de Os homens que mataram o facínora, a história dos inimigos de Lampião, Record.

A Revolta de Juazeiro

quarta-feira, 22 de junho de 2011

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Em 1914, o sertão nordestino foi novamente abalado por uma grande revolta popular de caráter religioso, ocorrida em Juazeiro do Norte, interior do estado do Ceará, e liderada pelo padre Cícero Romão Batista.

Ao contrário do que ocorreu em Canudos, onde a população sertaneja lutou em defesa da posse da terra e de sua comunidade contra os interesses dos coronéis locais, os sertanejos de Juazeiro pegaram em armas para derrubar do poder o governador do estado do Ceará.

O povo de Juazeiro, porém, lutou em defesa de uma causa que não era sua, pois a revolta popular foi preparada pelos coronéis da região com o objetivo de retomar o governo do Ceará.

Conflito entre as oligarquias

Para entender as causas da Revolta ou Sedição de Juazeiro, é preciso levar em consideração a luta entre as oligarquias pela conquista do poder político. Em 1910, os Estados de São Paulo e Minas Gerais romperam com a política do "café-com-leite" porque não chegaram a um acordo sobre a sucessão presidencial.

As oligarquias de São Paulo uniram-se às da Bahia, e juntas apresentaram a candidatura do baiano Rui Barbosa. Minas Gerais, por sua vez, se uniu ao Rio Grande do Sul e lançou como candidato o marechal Hermes da Fonseca, que venceu as eleições.

Ao assumir a presidência, Hermes da Fonseca procurou alterar a correlação de poder das forças políticas, beneficiando as pequenas oligarquias em detrimento das oligarquias tradicionais. Foi com esse objetivo, que o presidente colocou em prática o que ficou conhecido como "política salvacionista".

Consistia basicamente em intervenções de tropas federais nos Estados, para substituir o poder uma oligarquia por outra. O governo federal justificava as intervenções como meio mais eficaz de acabar com a corrupção e depurar as instituições republicanas.

O governo do Ceará

A política salvacionista foi a principal causa da Revolta de Juazeiro. O marechal Hermes da Fonseca decidiu intervir no Estado do Ceará com objetivo de neutralizar o poder das oligarquias mais poderosas da região, que estavam sob controle do senador Pinheiro Machado, um político com muita influência sobre os coronéis do Norte e Nordeste brasileiro.

A intervenção federal no Ceará derrubou do poder a família Acioly e em seu lugar colocou o coronel Franco Rabelo. Os coronéis aliados dos Acioly, reagiram, buscando o apoio do padre Cícero. Naquela época, o padre Cícero era conhecido por todo sertão nordestino por ser considerado um homem santo e "fazedor de milagres". Chamavam-no de "Padim Ciço".

O deputado federal Floro Bartolomeu, aliado de Pinheiro Machado, tinha grande influência sobre o padre Cícero. Convenceu-o a usar sua popularidade para convencer os sertanejos da região a participarem de um levante armado contra a intervenção federal no Ceará. Liderados pelo padre Cícero, milhares de sertanejos pegaram em armas e se revoltaram. O levante foi tão violento que o governo federal cedeu, retirando o interventor e devolvendo o governo do Estado aos Acioly.

Guerra santa

A condição de miséria das populações do sertão nordestino favoreceu sua subordinação a líderes religiosos, fanáticos e demagogos, que de tempos em tempos surgiam na região. Sob a influência do admirado e carismático Padim Ciço, os sertanejos cearenses participaram da Revolta de Juazeiro por acreditarem que estavam cumprindo uma missão profética e lutando numa guerra santa.

Porém, com o retorno da família Acioly ao governo do Ceará, o grande beneficiado foi, de fato, o mais influente oligarca da Primeira República, o senador Pinheiro Machado. Na memória e tradição popular do povo nordestino, porém, o padre Cícero é até os dias de hoje venerado como santo e profeta. Em Juazeiro do Norte, um enorme monumento erguido em sua homenagem atrai, todos os anos, multidões de peregrinos.

A Guerra do Caldeirão

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A primeira coisa que é válida de se observar é que mesmo antes de se concretizar uma experiência como a do Caldeirão, Cícero já vinha orientando José Lourenço, o beato do Caldeirão. Este é um Paraibano, homem de cor preta e origem obscura, que havia chegado ali no início dos anos de 1890, no auge das discussões sobre o milagre da hóstia que se transformou em sangue. Com o apoio do padre, é formado, pela primeira vez, num pedaço de terra arrendada por José, a primeira experiência de uma comunidade produtiva e religiosa de base familiar nos molde mais cristão-primitivo-camponês.

A primeira comunidade foi erguida num pedaço de terra no sítio Baixa d'Anta (propriedade de João Brito). Quando saiu de Juazeiro para o sítio, por volta de 1894, Zé Lourenço levou consigo a família, um grupo de romeiros e a missão, delegada pelo guru Padre Cícero, de formar uma comunidade ali na vizinhança do Crato. Cabia ao beato receber, naquele pedaço de terra arrendada, os desvalidos dos desvalidos. Para lá, Cícero enviava vítimas de perseguições, os que precisavam ser educados para o trabalho, e outros foram chegando porque ouviam falar de um lugar onde não tinha fome. José Lourenço era um exemplo de mansidão e humildade, pelo povo passou a ser conhecido por beato e conselheiro.

Não havia nenhum tipo de julgamento para a chegada ao pequeno arraial. O próprio Padre Cícero costumava mandar para lá cangaceiros arrependidos e assassinos e toda a sorte de gente. A única obrigação que tinham os pecadores era a de esquecer o passado e tibungar, de corpo e alma, na rígida moral sertaneja, na profundeza da penitência, no fundo do pote da fé cega e da empreitada agrícola coletiva.

Sem dar conta e desprovido de qualquer notícia do estrangeiro, a comunidade aproximava-se, no seu modo de produzir e espalhar fartura, eram como seguidores da cartilha de Karl Marx. Mas a fonte era outra: tão somente os princípios cristãos diluídos em potes e mais potes de sacrifício.

A fartura cooperativista do Sítio Baixa Danta era, no entanto, um retrato às avessas da política latifundiária. As mangueiras, laranjeiras, carás, hortaliças, lima e limão e até cafezais exibiam a força do trabalho coletivo.

Zé Lourenço, no entanto, sofreria um duro baque. Com a chamada “Guerra de 14”, como ficou conhecida pelo povo a “Sedição de Juazeiro”. O sítio foi invadido e saqueado por tropas do governador Franco Rabelo, que comandava, de Fortaleza, uma batalha contra os “marretas” do Cariri. Com seu comportamento manso não chegou a participar da Sedição, mas nesta ocasião teve um prejuízo enorme com a invasão das tropas de Franco. Mas passada a batalha, trabalhou e conseguiu reaver tudo.

Em pouco tempo e com muito suor coletivo, a fartura estava de volta ao sítio do beato. E com uma riqueza a mais. Padre Cícero, que sempre ganhava muitos presentes, tanto do povo como da dita elite nordestina, recebera um touro, raça zebu, do industrial Pernambucano Delmiro Gouveia, pioneiro em invenções têxteis no Nordeste, um progressista, comparando-se com a selvageria dos donos do poder da região. Batizado boi Mansinho, pelo seu temperamento, o animal daria muito trabalho dali para frente. Carregaria sobre as quatro patas uma carga de simbolismo que renderia complicações e desassossego para Zé Lourenço e sua gente. Arrobas e arrobas de devoção.

Até hoje não se sabe o que havia de lenda ou o que havia de verdade diante do boi. O certo é que, em pouco tempo, os boatos davam conta de um rosário de milagres. Até a urina do bicho era bebida para todas as curas, remate de todos males.

As narrativas que ficaram são muitas. A mais comentada: certo dia, um cabra-macho de Pernambuco, na vizinhança do Cariri, fez uma promessa para conquistar uma difícil donzela. Moça linda, a mais caprichosa das morenas, daquelas que areiam os copos de alumínio da casa e se debruçam na janela à espera de um trovador. Cabocla para poucos.

O rapaz conseguiu o que ansiava, um tanto com respeito um tanto com a gabolice possível, pobre Cândido. Pegou um bom feixe de capim, fresquinho, ainda com sereno da manhã, e levou de presente para o touro, como havia confessado a Deus na promessa ou no sonho. Quando deitou o capim na frente do bicho, só notou estranheza e alvoroço. O boi recusou a oferta.

Dias depois, descobria-se que o capim havia sido furtado de terra alheia. Começava aí a fama de santo de Mansinho. Virtuoso, só aceitava o que não embutia nenhum dos pecados escritos nas tábuas sagradas.

Adorado pelos fiéis, motivo de outras tantas promessas, até as fezes do boi eram utilizadas como remédio ou devoção. Os jornais do Nordeste, por maldade ou exotismo noticioso, ajudavam a fermentar ainda mais os feitos bovinos. Em pouco tempo, “os milagres do boi Ápis” reforçavam a fama do Juazeiro e seus arredores caririenses como um antro de loucos e perigosos fanáticos. A síndrome de Canudos , episódio ainda fresco no imaginário do poder dos republicanos do Brasil Oficial, dava letras graúdas aos acontecimentos que lembrassem, de longe ou de perto, o arraial de Antônio Conselheiro.

O fato foi tomando conhecimento nacional. Mesmo não tendo nada a ver com a divinização do Boi, o beato foi intimado por Floro que não queria ver o nome do Padre Cícero, mesmo ele não sendo mais pároco local, maculados pelo acontecido.

A primeira preocupação de Floro Bartolomeu era desfazer a “lenda” do boi. E partiu para todo tipo de crueldade. Mandou a sua polícia açoitar quem propagava histórias sobre Mansinho, impôs aos penitentes a queima de suas vestes e demais objetos usados na ordem, mandou matar o boi e ainda deu um castigo de prisão por duas semanas a Zé Lourenço.

O beato também foi obrigado a provar da carne de Mansinho. “O negro, supondo exata a notícia, no terceiro dia apareceu na minha residência. Foi quando o conheci pessoalmente. Mandei prendê-lo, e, apesar das suas declarações, dele obtive a promessa de ir morar no Juazeiro, para evitar os boatos”, bordejou Floro, em um discurso no plenário da Câmara Federal, onde exercia o mandato de deputado, em 1923. Ele queria afastar de Juazeiro e do Padre Cícero qualquer sombra de aliado de fanáticos e cangaceiros. Tudo para continuar o seu reinado político no vale do Cariri.

O mais importante de todo o caso é o comportamento de Cícero, que viu Floro maltratar Lourenço, matar o boi na sua frente e impedi-lo de voltar a Baixo da Anta, e só depois de 18 dias de prisão, foi que ele intercedeu a favor do beato. O nome de Cícero não sai abalado, para a comunidade ele deixou que tudo aquilo acontecesse com José para que Floro e os outros poderosos da Região tivessem ali um exemplo de vida, de que um santo sem culpa provou sua inocência no sofrimento, semelhante a Cristo. Para os demais ficou claro que Cícero não apoiou o Beato deixando-o sofrer nas mãos de Floro. E mais, Cícero impediu uma sindicância à Juazeiro e a comunidade, pois sabia que seria desagradável e poria fim a Baixo d'Anta.

Volta José Lourenço, e em pouco tempo os líderes vêem naquele local algo subversivo a ordem. Ali, o beato nutria nas pessoas a idéia de que não haviam dominado nem dominadores e que o fruto do trabalho deveria ser dividido por todos.

Desejosos de se verem livre do beato, ou por outra razão o dono do Sítio Baixo d'Anta, um tal João de Brito, vai vender a propriedade. Pede o terreno então ao Padre Cícero, que sempre funcionava como um intermediário, um conciliador entre o povo e os coronéis da região. Sua intenção era abafar possíveis conflitos agrários. Com a venda, inclusive da parte arrendada a José, dar-se fim a primeira experiência de socialismo cristã da região.

Ainda em 1926, quando Floro Bartolomeu foi chamado para organizar pela Segunda vez o Batalhão Patriótico, desta vez para defender o estado contra a Coluna Prestes, ele já estava um tanto abatido pela Angina. Floro estava em Campos Sales defendendo o Ceará da Coluna, quando em um confronto com o Capitão Polidório, do Batalhão de Caçadores de Minas Gerais, que estava lá para ajudar o Batalhão Patriótico, teve uma crise que agravou o quadro da doença. Impossibilitado de Permanecer no campo de batalha, volta a Juazeiro onde é providenciado um trem para que o levasse a Fortaleza e de lá seguiria para o Rio de Janeiro. Ainda houve um desentendimento com Isaías Arruda, coronel forte de Missão Velha, que dentro do trem onde Floro estava, cobrou sua parte por ter estado no Batalhão. Mais uma coisa para irritar Floro.

Em Fortaleza ficou hospedado na Escola de Aprendizes Marinheiros, de onde seguiu para o Rio. Estava tão tenso que num encontro com o então presidente do Estado, Moreira da Rocha, depois duma discussão, ameaçou que se voltasse vivo do Rio voltaria depô-lo do Governo. Com a doença bem agravada, mal conseguiu chegar ao Rio e morreu. Foi sepultado com honras de general. Dava-se fim a história do fenômeno político de Juazeiro, o Doutor Floro Bartolomeu da Costa. Estava morto principalmente na mente dos populares, que sempre tiveram o Padre Cícero como líder.

Neste meio tempo, sem terra e sem nenhuma indenização, José Lourenço e os outros seguem para um local que Cícero destinou para eles, O distante Sítio Caldeirão, ou o Caldeirão dos Jesuítas, que servira de refúgio para seguidores da ordem, também conhecido depois como Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, aos fiéis. Com quase mil hectares, a área localizada no município do Crato, no pé da Serra do Araripe, seria em breve um próspero canteiro.

Lá o Beato foi perfeito, seu espírito empreendedor fez do Caldeirão um local produtivo. Com a morte de Floro e o apoio explicito de Cícero, o sítio prosperava como nenhum outro e com pouco tempo se fez notoriamente algo maior do que Baixo d'Anta.

A autoridade de José ia crescendo, ele casava, batizava e julgava os problemas do sítio. Por isso faz-se essa comparação entre José e Antônio Conselheiro. Talvez o comportamento no final seja o mesmo, mas o que os levou a isso é que difere. O Caldeirão basicamente, é um movimento onde a religião permeou o social, diferente de Canudos, onde o social permeou o religioso. Ou seja, o motor de tudo em Caldeirão é a religião, a justificativa inicial do movimento era a religião, a orientação era a religião, o próprio senso comunista, socialista, adivinha de um cristianismo primitivo. A religião em Canudos serve como algo que aproxima as pessoas, mas o que as trouxe ali fora a crítica social, não que no Caldeirão não exista uma crítica a sociedade, e não que em Canudos a religião não seja importante, mas existe essa diferença decisiva para analisar o Caldeirão.

Para alguns historiadores e sociólogos, uma comunidade nos moldes socialistas; para outros tantos, uma legião messiânica à espera de um Dom Sebastião salvador, como pregavam, desde a segunda metade do século XIX.

O historiador cearense Francisco Régis Lopes Ramos, autor de vários livros sobre este e outros episódios marginais da história do Nordeste brasileiro, avalia que a fé foi um grande impulso para a ida dos fiéis ao Cariri, mas não uma tentativa de fazer o céu na terra. “Com isso podemos inferir que, de uma certa forma, o Caldeirão significa(va) um movimento social de contestação pacífica à situação dos sem-terra”, conta. “Era o trabalhador provando que era possível viver bem do seu próprio trabalho”, relata em “Caldeirão - um Estudo Histórico sobre o Beato José Lourenço e suas Comunidades”.

Coube ao potiguar Severino Tavares, de semblante que lembrava Antonio Conselheiro, carregar nas tintas messiânicas do Caldeirão. Com a sua imagem e gestos de pregador do fim do mundo, falas intermináveis carregadas de parábolas e revolta social, Severino peregrinava pelos sertões do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, mas sempre voltava para o Cariri, aonde chegou no começo dos anos 30.

Mais discreto Zé Lourenço se enfiava no trabalho e nas orações.

A fama do arraial do Cariri, no entanto, despertava ódios e versões os mais diversos. Tropas getulistas da chamada Revolução de 1930 foram ao local e saquearam e destruíram todo o sítio. O gado foi tangido, bodes, cabras, ovelhas, jumentos e cavalos tiveram o mesmo destino; as plantações foram pisoteadas. Para os ditos “revolucionários”, Zé Lourenço e a sua comunidade representavam um foco de resistência armada no pé da Serra do Araripe.

A destruição fora grande, mas o beato, que havia se protegido dos invasores em locas de pedra da região, estava vivo. Era o bastante para começar tudo outra vez.

A fartura da comunidade era tanta que, durante a seca de 1932, uma das muitas terríveis que abateu o Nordeste, centenas de desvalidos correram para o Crato. Foram recebidos com comida, trabalho e orações pelo beato. Naquele momento, os fiéis dominavam até mesmo técnicas primárias de irrigação, o que permitia multiplicar a fartura da irmandade do Caldeirão, ou a Santa Cruz do Deserto, como eles se autodenominavam. Neste tocante, como em Canudos, Caldeirão fora à denominação feita pelo governo e a imprensa. Para os crentes, eram respectivamente, o “Belo Monte do Conselheiro” e a “Santa Cruz do Deserto do beato Zé Lourenço”. Coincidentemente, ambas as experiências de coletividade de trabalho no campo, baseados na religiosidade popular teriam o mesmo fim, à bala.

No Ceará, durante a seca de 32, o governo, como sempre incompetente para o mais antigo dos dramas dos nordestinos, montou seis “campos de concentração” que abrigavam a horda de miseráveis. No Crato mesmo havia um desses currais de arame farpado por onde passaram cerca de 40 mil famintos. A intenção das autoridades era evitar que as doenças contagiosas, se espalhassem para toda a população.

Não se tem a mínima notícia sobre o número de nordestinos desejados ali.

Em 20 de julho de 1934 morria o Padre Cícero Romão Baptista, aos 90 anos. Morreu, não; para os romeiros, “meu Padim viajou e deixou Juazeiro sozim”. Com a “viagem” do líder religioso, Zé Lourenço passou a ser visto como o sucessor do padre Cicero.

Discreto, a mais sossegada das almas, o beato não havia reivindicado o posto de sucessor do Padre Cícero; muito menos perseguido tal patente. Mas a folha de serviços prestados e o próprio silêncio diante até mesmo de injustiças, como a sua prisão, consagraram-no como o herdeiro natural do “santo” do Cariri.

Nesta época, a comunidade possuía cerca de 3 mil pessoas, fala-se em mais 3 mil, de flutuantes que recorriam ao Caldeirão para resolver as necessidades de sempre, fome do estômago ou do espírito. Comiam, oravam e depois voltavam para as suas casas. “Às vezes o beato ia até as roças puxar benditos e incentivar o trabalho, que tinha jornada de oito horas, com intervalos para o almoço e a merenda. A produção era armazenada em um grande prédio construído perto da barragem do açude e de lá repartida, através de Isaías, espécie de secretário do beato, com os chefes de família, conforme as necessidades”, relembrou o jornal de resistência “Nação Cariri”, em 1982, comandado por Oswaldo Barroso e Rosemberg Cariry, este último autor de um documentário que iluminou o assunto, página sempre condenada às trevas e à clandestinidade da história oficial.

Com muita gente a chegar, o arraial despertou a ira da elite. Para o poder político sustentado por coronéis, a Igreja Católica e o Estado. Era a paranóia de uns novos Canudos. Associados ao temor do comunismo, como relata o historiador e advogado Airton de Farias. Este temor viria a enquadrarem e prenderem como bolchevique o pregador Severino Tavares, que pela origem Potiguar, Tavares foi acusado de ter participado da fracassada Intentona Comunista em Natal, no ano de 1935, e de ser um “agente de Moscou” infiltrado entre os camponeses do Caldeirão.

Além do terror vermelho, o terrorismo moral. A Igreja e as autoridades do Ceará e de Pernambuco espalhavam entre os católicos boatos sobre o comportamento desregrado do beato. Dizia-se que Lourenço possuía um harém, com muitas beatas aos seu inteiro dispor sexual. As narrativas davam conta de uma versão sertaneja de Sodoma & Gomorra. Devido ao voto de castidade, o padrinho José, como era tratado pelos romeiros, sequer havia casado.

O pior golpe que sofreria da Igreja, porém, viria da aliança entre a Ordem dos Salesianos e a Liga Eleitoral Católica, a LEC, espécie de partido de Deus dedicado a puxar votos dos grotões para candidatos ultraconservadores.

Mesmo com as perseguições, como o Caldeirão continua crescendo, e com a morte do padre Cícero em 34, o movimento duplicou. O beato passou a contar com a ajuda de Isaías e a partir daí começam as romarias ao Caldeirão, fato que fortaleceu e muito José Lourenço. A experiência dava certo e os líderes locais não podiam suportar mais aquilo. Com a morte de Cícero, as terras do Caldeirão foram deixadas para os Salesianos, e como acreditava Ralph Della Cava, que "o clérigo tenha designando como seus herdeiros uma congregação italiana, cujas ligações íntimas com o papado devem ter-lhe aparecido como o último e único modo de voltar ao sacerdócio”. Esta hipótese plausível, contudo ainda aguarda confirmação, em contraste com o fundamento explícito de dar sua fortuna aos Salesianos, a fim de que abrissem um colégio de formação agronômica em Juazeiro”.

O testamento do padre Cícero é de 1923, ele destinava a maior parte do seu patrimônio aos Salesianos. Nesse lote estava incluída a fazenda Caldeirão. Com a morte do padre, os herdeiros queriam expulsar imediatamente os camponeses, os fanáticos e comunistas, no dizer oficial. O padre poderia tê-lo modificado pelo menos para fazer de José Lourenço herdeiro das terras do Caldeirão. Talvez não imaginasse que os Salesianos deixasse José permanecer no Sítio, uma vez que era extremamente produtivo. Mas não aconteceu assim. Sem a proteção de Cícero, o Caldeirão foi entregue a um destino cruel.

Com a ajuda da Diocese do Crato e dos coronéis, que se queixavam de perder a mão de obra escrava para o sítio de Zé Lourenço, os Salesianos recorreram ao governador Menezes Pimentel. Os jornais do Ceará já vinham na mesma Tonica em suas noticias sobre o lugar já havia bom tempo. Em lugar da monarquia, fantasma dos republicanos, o comunismo, assombração de bispos e oligarcas.

Apenas um articulista, José Alves de Figueiredo, farmacêutico do Crato e proprietário de uma fazenda vizinha do Caldeirão, tive a coragem de defender o beato, a quem tratava como um rude apóstolo do bem. “Tendo sob a sua proteção cerca de 300 pessoas, que ele veste e alimenta, sua casa é uma colméia. Homens velhos e moços, brancos e pretos, moças e velhas, ao aproximarem do beato José Lourenço, se descobrem, com grande respeito, ajoelham-se aos seus pés e beijam-lhe as mãos”, escreveu, em manifesto de solitária coragem publicado na edição de 7 de junho de 1934 do jornal O Povo, de Fortaleza.

Espionado pela Polícia Militar cearense, comandada pelo capitão do Exército Cordeiro Neto, o beato Zé Lourenço recebe com banquetes o capitão José Bezerra, escalado pela PM para o serviço de espionagem da comunidade. Bezerra chegara ao sítio, em meados de 1936, travestido de empresário desejoso de explorar a oiticica, uma das árvores brasileiras mais ricas em óleo, da região. O resultado desta visita foi à entrega ao comando da polícia, de um relatório que desenhava o Caldeirão como um misto de inferno e sucursal de Moscou.

Estava decidido. O avanço das tropas oficiais sobre o Cariri era questão de dias.

No começo da noite de 9 de setembro de 1936, um batalhão, armado com fuzis e metralhadoras, marchava de Fortaleza para o município do Crato. O entusiasmo militar era embalado por cantigas. Depois de quase um dia de viagem, os militares chegavam ao Caldeirão. Ainda de longe, enxergavam “formigas negras” a descer dos morros, segundo relatos do tenente José Góes de Campos Barros publicados pelos jornais à época.

“Com rezas bravias num curral, homens, mulheres e crianças se comprimiam, uns contra os outros, olhando-nos com ódio e temor; a severidade dos semblantes, a atitude reservada e a uniformidade negra das indumentárias, não deixavam de emprestar à cena uma grandiosidade lúgubre e triste, como uma experiência de catástrofe”, narrou o tenente. “Apenas, num contraste irônico, quatro loucos, amarrados a um canto, sorriam sem procurar compreender. Parecia o inferno; e eu me lembrei de Dante”, descreveu o militar, amparado na “Divina Comédia”.

A tropa fez uma revista em cerca de 400 casas. No primeiro momento, só uma moça ergueu a voz em protesto contra a invasão. “O primeiro protesto partiu de uma mulher”, observou o tenente José Goés.

A tropa se dirigia para a casa do beato.

A decepção foi grande. Zé Lourenço, mato adentro, havia tomado o rumo de um esconderijo perto de umas pedreiras na Serra do Araripe.

A tropa de militares passou a dar ordens. Todos, entre 700 a mil pessoas encontradas nas mais de 400 casas do arraial, teriam que voltar para as suas terras. Chegou a impressionante conclusão de que 75% dos habitantes eram do Rio Grande do Norte, Estado que havia enfrentado estiagens mais severas em período recente, 20% de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Maranhão, Piauí e apenas 5% de cearenses. O “cosmopolitismo” de nordestinos mantém-se como característica da população do Cariri até os dias que correm, ainda por causa das romarias.

Os casados, com os filhos teriam o prazo de cinco dias para saírem da área. Os solteiros, apenas três dias para juntar os pertences e cair no mundo. A Polícia ofereceu passagens de trens e de navio. Todos os seguidores do “preto sagaz” como o beato era conhecido pelos militares, rejeitaram a oferta. Um quase uníssono “não” balançou a caatinga. “Peguem os seus bens e retornem aos seus lugares”, diziam os comandantes da tropa.

“E, fato singular, ninguém tinha bens a conduzir. Tudo que ali estava, diziam, era de todos, mas não tinha dono”, relatou o tenente José Goés, impressionado com o espírito coletivo daquele “Estado Comunista e teocrático”, como registrou nas suas anotações.

A tropa, pois, resolveu partir para a ação e a tentativa de humilhação total daquele do povo que seguia o beato. O capitão José Bezerra, o mesmo que havia espionado a comunidade meses atrás, sabia que o cavalo Trancelim era o animal mais querido do lugar. Passou a maltratá-lo até a morte. Teso, o cavalo teve o seu couro retirado com requintes de perversidade. Tudo para deixar o Caldeirão, outrora território do boi Mansinho, destroçado, sem símbolos, pele, e muito menos auto-estima.

A partir daquele episódio, a barbárie. As casas foram incendiadas, os armazéns de algodão, cereais e legumes foram saqueados.

Maria Vieira, uma “moçona bonita do Piauí”, no dizer de Maria Gurgel, em depoimento ao historiador Régis Lopes, fez daquele inferno o seu juízo final. Sob o temor de ser carregada pelos militares para Fortaleza, onde perderia, segundo as ameaças, a sua virgindade, Maria Vieira se ensopou de querosene da tradicional marca “Jacaré”, e tocou fogo no corpo ao pé do cruzeiro do sítio. As labaredas cobriram-na em segundos.

Ainda se estrebuchando ao pé da santa cruz, um sargento indagou se Maria estava satisfeita com o que fizera. Com a cabeça, ela disse que sim. “Você quer acabar de morrer de tiro ou de cacetada”, perguntou o mesmo militar. “Do que vocês quiserem me matar”, disse a moça e pouco depois morreu.

A tropa, formada por pelo menos 200 homens, enxotou os fiéis, que se refugiaram nas encostas da Serra do Araripe, entre a Mata do Cavalo e o Curral do Meio. Muitos, não se sabe quantos, foram presos e conduzidos, amarrados, para a cadeia em Fortaleza; outros fugiram para Juazeiro ou para as suas terras de origem. A partir daí, a polícia se apropriou da maior parte dos bens do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. “Que se combatesse o beato, sob o pretexto que o mesmo era um chefe de fanáticos, admite-se”, publicou, em editorial, o jornal O Povo de 11 de novembro de 1936. “Vender-se, porém, aquilo que de direito lhe pertencia e aos seus romeiros, não parece justo nem razoável, mesmo porque o Estado é que terá de reparar depois o prejuízo resultante da mencionada transação”.

Até as portas da igreja do sítio foram vendidas. Ironicamente caíram nas mãos do dono do maior cabaré e “casa de mulheres de vida fácil” do Cariri, o senhor José Alves. Preço das portas: 400 mil réis.

Meses depois, já em 1937, o espírito do Caldeirão ainda estava vivo. Mas dividido. De um lado, o Potiguar Severino Tavares, alma desassossegada, que tinha como base a comunidade do Cariri, mas vivia a pregar sertão afora. Seus sermões juntavam a moral reguladora da família com ataques à ordem estabelecida das oligarquias. “A roda grande vai correr dentro da pequena”, dizia, na imagem para indicar a mudança dos lados entre ricos e miseráveis, frase hoje atribuída ao Padre Cícero entre os religiosos dos sertões do Nordeste.

Severino havia sido preso várias vezes, a pedido dos coronéis ou da Igreja. Destemido, pregava a resistência armada para reerguer a comunidade.

Do outro lado, sempre na paz ou no sossego, Zé Lourenço queria uma reconstrução negociada para a volta ao Caldeirão. No primeiro momento, recorreu à Justiça para tentar reaver os bens assaltados pela Polícia Militar.