Forró - Música autenticamente brasileira

terça-feira, 14 de junho de 2011


A origem do termo forró ainda divide músicos e historiadores. Segundo uma corrente, o termo é um anglicismo, ou seja, uma palavra de origem inglesa. Mais precisamente da expressão for all (para todos), que teria sido incorporada à língua pátria no início do século, quando engenheiros britânicos se instalaram em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western. Amantes de uma festa, os estrangeiros promoviam bailes nos finais de semana abertos a quem quisesse participar. Era só checar no painel de recados do canteiro de obras: se estivesse escrito for all, tudo bem. Há muitos e respeitáveis defensores dessa tese.

Há quem diga também que forró é uma corruptela do termo forrobodó, palavra que quer dizer confusão, desordem, farra, arrasta-pé, etc. É a outra corrente de historiadores do forró.

Num ponto, entretanto, todos concordam: o criador do ritmo é o grande músico nordestino Luiz Gonzaga — até porque os bailes promovidos pelos gringos eram animados por sons bem diversos. O mais popular dos gêneros nordestinos só surgiu no final da década de 50, quando o Velho Lua começou a misturar os ritmos de suas músicas. "Ele foi criador da melodia que hoje se conhece como original", afirmam estudiosos do assunto.

DIFUSÃO

Este ritmo chegou em São Paulo e aos estados do sul por volta dos anos 60, através de migrantes nordestinos que procuravam trabalho na capital. Para se divertir, ensinavam suas músicas ao povo paulista.

Em seus primeiros tempos, o forró tradicional era constituído pelo sanfoneiro, pandeirista, tocador de zabumba e triângulo. O forró mais moderno já é tocado por bandas com bateria, guitarra, baixo e outros equipamentos eletrônicos, trazendo um novo estilo de dança mais alegre, porém, ao mesmo tempo mais comercial e descaracterizado, quando se leva em conta a história simples deste ritmo.

Para falar um pouco mais sobre a cultura musical nordestina, AND entrevistou o grande cantor e sanfoneiro cearense Waldonys. Este músico, com menos de 30 anos de idade, já carrega enorme experiência artística, adquirida por seus inúmeros espetáculos e pelas viagens que fez, em busca de novos conhecimentos mundo afora.

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Aos 17 anos Waldonys foi morar em Nevada, USA, para se apresentar no Teatro de Cassinos, num show montado pelo italiano Franco Fontana, que o viu tocar programaSom Brasil, da TV Globo, apresentado à época pelo ator Lima Duarte.

Retornando ao País, em 1992, para gravar seu primeiro CD intitulado Viva Gonzagão, Waldonys participou, logo depois, do projeto Asa Branca, também ligado ao espólio musical do criador do forró. Em 1994 o sanfoneiro tocou com o cantor Fagner, numa turnê que se estendeu até Portugal e depois, ao lado de Marisa Monte, apresentou-se em todo o território nacional e numa turnê que o levou, novamente, a países como Alemanha, Itália, Inglaterra, França e Bélgica, e USA.

INÍCIO

Sua carreira artística se inicia quando, aos 11 anos, tem suas primeiras aulas particulares, com o apoio do pai Eurides, que também tocava sanfona, mas não era profissional. Assistiu aulas teóricas no Conservatório Alberto Nepomuceno (vinculado à Universidade Estadual do Ceará). Waldonys, aos 13 anos, passou a ter aulas com Tarcísio Lima, um sanfoneiro "bem conceituado". É neste período que se dá sua apresentação à Luiz Gonzaga, feita por Dominguinhos que, em viagem para Fortaleza, visita-o em sua casa. Após esse primeiro contato, a amizade deles segue até a gravação do último disco de Gonzagão, Aí tem, no qual Waldonys tem uma participação na música Fruta Madura, onde seu nome é citado pelo próprio Luiz Gonzaga.

Nesse mesmo período Waldonys ganha uma sanfona de Gonzagão, que para ele é considerada um troféu, até hoje, guardada a sete-chaves. Como seu avô mesmo diz, a sanfona "é de maroca, não se vende nem se troca". Em 1995 grava Veleiros, depois Começo de namoro e em Coração de Sanfona, seu quarto disco, promove um verdadeiro pacote regional. Com seu novo trabalho Waldonys canta e toca sucessos nordestinos, segue a "trajetória da sanfona" como ele próprio intitula sua carreira.

Waldonys é um grande representante da cultura popular musical do Nordeste. Tanto ele como Domiguinhos, que não poderíamos deixar de mencionar, tocaram com Luiz Gonzaga, rei do baião e um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Mesmo com larga experiência e um certo reconhecimento do público, o sanfoneiro cearense é um homem simples e que faz com orgulho a alegria de muitas pessoas, quando toca e canta o verdadeiro forró nordestino, ou forró de raiz.

O músico teve uma convivência muito boa com vários outros sanfoneiros de sua geração, como Oswaldinho, um mestre que explora um outro lado da sanfona, mais clássico, mais respeitado no exterior e Hermeto Pascoal, outro gênio, um mago da música. Waldonys muito aprendeu -como com Jackson do Pandeiro com quem não conviveu, mas ouviu bastante — e ensinou. Suas experiências e conhecimentos foram tirados da grande vivência artístico/musical que tem.

Waldonys fala sobre Humberto Teixeira, José Dantas e Catulo da Paixão Cearense com muito entusiasmo, pois para ele é muito fácil falar desses compositores, que são pessoas conhecidas no mundo inteiro. "...Asa Branca é um Hino do Nordeste Brasileiro, ou até mesmo um Hino do Brasil; quando a musica é bem feita, ela dura pra vida toda. E não há como destacar esses compositores, se não como gênios da música brasileira", diz.

Conhecido no Brasil e no mundo Waldonys, fazendo um paralelo entre esses compositores e os compositores de hoje, os destaca como categoria A, não desmerecendo os atuais. Segundo ele, "hoje temos muitos compositores bons como Nando Cordel, Jorge Vercilo; temos músicas boas, mas a maioria está fazendo músicas meio descartáveis, com um tipo de apelação pelo que está rolando nas rádios do Brasil inteiro; a maioria está nessa."

FORRÓ E BAIÃO HOJE

Passados quase 15 anos da morte de Luiz Gonzaga, para Waldonys o baião original não mudou nada, continua "o baião de sempre. Mas o forró mudou muito, mudou a forma de se tocar, hoje existe o que as pessoas titularam como 'forró eletrônico' — o forró de banda— e já inventaram até um tal de forróneirão, um vaneirão. Isso tudo tirou a identidade do verdadeiro forró, mas não o enfraqueceu, porque o forró verdadeiro, o baião verdadeiro, o xote verdadeiro, autêntico, não acaba nunca. No forró, mudou o ritmo da batida, a forma de tocar, a interpretação; uma banda emplacou por ter uma forma de tocar e as outras foram seguindo igual; igual, não tem nem como negar, pois antigamente Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Elba Ramalho e outros não precisavam ficar gritando o nome deles para que as pessoas os identificassem, e hoje, no começo, meio e fim dos shows os cantores gritam seus nomes para que as pessoas as iden ifiquem", afirma Waldonys.

Ele afirma também que tudo é bom, tudo que diz respeito ao forró, que emplaque, embora descartável, é positivo porque de qualquer maneira puxa um pouco do forró de raiz para cima. O compositor comenta ainda uma conversa que teve com Dominguinhos onde falavam que o forró nordestino sempre esteve dentro da casa das pessoas, mas sempre esteve na cozinha, nunca foi para a sala de visita, onde só toca MPB; mas ele frisa: "mesmo na cozinha, ele nunca saiu da casa das pessoas."

GONZAGÃO

Waldonys teve a sorte de conviver muito tempo com o Rei do baião, e com muito orgulho lembra da força e dedicação que recebeu dele, participando ao seu lado em televisão e shows. Sente muita gratidão por ter sido apadrinhado por ele e diz: "Infelizmente, hoje sabemos que se você tem um padrinho para te colocar na cara do gol, você prossegue." E Luiz Gonzaga o colocou, e destaca, "existe um sentimento muito interessante no ser humano que é o ciúme, mas com o Rei do baião não. Quando ele acreditava em alguém ele dava a sanfona, levava para os shows e ajudava de toda a forma. Ele lutava pelo forró."

Em sua carreira nacional, ele toca com Fagner por dois anos, grava seus próprios discos e começa a tocar com a Marisa Monte, onde teve um destaque muito grande, nacional e internacionalmente. Ele fala de Marisa com muito entusiasmo, pois a considera uma segunda madrinha na sua carreira artística. Com ela o sanfoneiro diz ter tido um destaque maior, "pois nos shows era eu e ela, e a imprensa começou a divulgar que "o pop descobriu a sanfona."

PRESERVANDO O FORRÓ

Waldonys destaca, ainda, a importância de se preservar o forró, o baião, a música popular brasileira em geral. Ele diz que não se pode parar de tocá-la, de compô-la. "Em meus shows, 70% do repertório é Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fagner, Jackson do Pandeiro, e sempre divulgamos, não só aqui no nordeste, mas no Brasil e no mundo, as música típicas de nosso país." Para o fortalecimento da luta dos sanfoneiros no Nordeste, Waldonys acentua que são os monopólios dos meios de comunicação que criam as principais dificuldades: "Existe muita gente boa, que faz música boa, mas está escondido, pois não tem espaço." Os grandes veículos de comunicação do país não estão preocupados em mostrar a verdadeira música, por causa dos apelos comercias, dessas músicas quase pornográficas, que só existem para o mercado. O caminho hoje é retomar as apresentações populares, estimular a criatividade e arte do nosso povo.

O NORDESTE EM SÃO PAULO

Perguntado sobre qual estado brasileiro, além dos nordestinos, tem maiior concentração de forrozeiro, Waldonys não hesitou em responder que era São Paulo. Ali, dada a enorme concentração de migrantes, se desenvolveu, de maneira intensa, uma cultura ligada às tradições nordestinas, tanto na música, quanto na culinária, dança, literatura (sobretudo a de cordel), etc.

Nos últimos anos, com a "descoberta" do forró pelos jovens de classe média de São Paulo e Rio de Janeiro, a presença da cultura do nordeste — mesmo que distorcida -pode ser vista com mais força em diversos locais destas duas grandes cidades brasileiras, que foram construídas majoritariamente, se assim se pode dizer, pelo suor dos trabalhadores do nordeste brasileiro.

Fonte: A Nova Democracia

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